Nos meses de novembro e dezembro de 2021 é apresentada no Teatro Municipal Mirita Casimiro do Estoril a performance teatral “Beatrix Cenci” sobre a alteridade em termos de Género e de Etnia, com encenação e dramaturgia de Graça Corrêa (CFCUL/GI3) e produção do Teatro Experimental de Cascais.
“Um espetáculo sobre uma heroína trágica cuja história incendiou a imaginação artística e inflamou o pensamento feminista, desde a sua morte por decapitação a 11 de Setembro de 1599.Em latim, o nome feminino Beatrix associa-se à felicidade, a quem é portadora de alegria. Com este espetáculo pretendemos explorar o antagonismo e ambivalência entre princípios aparentemente irreconciliáveis de bem e de mal, de amor e de ódio, de luminosidade e de obscurantismo; bem como revelar o dilema ético entre a culpa jurídica e a inocência moral.Mas Beatrix Cenci existiu realmente. Filha do famoso Conde Francesco Cenci-um patriarca despótico que submeteu a sua família, vassalos e lacaios aos crimes mais cruéis, incluindo violação, incesto e homicídio-Beatrix viu-se envolvida numa conspiração que terminou em parricídio.Apesar dos protestos do povo de Roma, movido pela defesa da jovem face à depravação do seu pai, o Papa Clemente VIII não perdoou os assassinos e Beatrix foi torturada e decapitada com apenas 22 anos. A sua história deu origem a criações em todos os domínios artísticos: pintura (o seu retrato na prisão atribuído a Guido Reni foi talvez executado por Elisabetta Sirani), literatura (Stendhal, Alexandre Dumas pai, Charles Dickens, Stefan Zweig), teatro (Alberto Moravia, Antonin Artaud), fotografia (Julia Margaret Cameron), escultura (Harriet Hosmer), cinema e ópera.A versão agora apresentada no TEC é da autoria de Graça P. Corrêa, inspirada na tragédia em verso do poeta gótico-romântico Percy Shelley. Tomando como fio condutor a narração de uma pintora da época, Artemisia Gentileschi-também ela vítima de abuso sexual e só celebrada pela sua notável e vasta obra em 2020-este espetáculo lança luz sobre o contexto social e posteridade feminista desta figura mítica que se tornou num símbolo de resistência contra os abusos da Inquisição e da tirania patriarcal.”