O que é uma Teoria Física?
What is a Physical Theory?
Investigador Principal
Rui Moreira \ GI2 - Filosofia das Ciências Naturais
2009 - 2011
Descrição do Projecto
Um físico de partículas, Oldershaw, num artigo publicado em 1988 afirmava que a física da segunda metade do século XX tinha-se entretido a construir teorias inverificáveis de 1ª ordem e teorias inverificáveis de 2ª ordem. O sinal de aviso lançado por Oldershaw merece ser analisado com detalhe. As teorias construídas em física durante esse período estão, como os seus próprios mentores admitem, por exemplo, acerca do “modelo standard”, fragilizadas. O propósito deste projecto é estudar as anomalias associadas a alguns desses projectos de teoria, e comparar, para usar a terminologia adoptada por Lakatos, os diversos programas de investigação científica em confronto, no domínio da física, à luz de uma definição mais rigorosa do que deve ser uma teoria física, proposta por nós. Essa definição permite-nos vislumbrar uma heurística positiva, também no sentido lakatiano do termo, muito geral, ou seja, associada, não a um programa de investigação particular em física, mas sim àquilo a que podemos chamar o programa científico em física. O domínio da física é, assim, aquele em que a necessidade de repensar o conceito de teoria emerge de uma forma mais premente. É esse o principal objectivo da investigação deste projecto.
O último critério empírico que pretende validar uma teoria física é a chave para analisar as teorias que se tentaram construir em física ao longo da segunda metade do século XX. Esse critério usa um argumento que um instrumentalista como o introdutor do termo John Dewey poderia aceitar, mas que nenhum utilizou até hoje, considera uma teoria física, não como um mero instrumento ou ferramenta, mas como, permita-se-me a metáfora, uma “máquina ferramenta”, ou seja, como uma ferramenta muito especial porque permite a construção de novas ferramentas ou instrumentos que aumentam a nossa capacidade de acção no mundo. Utilizando este critério, o número de construções teóricas em física que podem ser consideradas teorias reduz-se drasticamente. Teorias físicas são, assim, apenas aquelas que permitem aumentar a nossa capacidade de acção no mundo, através da construção de novos instrumentos que sem elas seriam inconcebíveis. Poderemos enumerá-las: mecânica e gravitação newtonianas, electromagnetismo, termodinâmica, mecânica quântica e relatividade restrita. As duas últimas necessitam de uma análise cuidada para definir os limites da sua aplicabilidade, mas hoje já possuímos informação empírica que nos permitem começar a defini-los. Este problema é interessante porque pode permitir-nos definir uma heurística positiva, no sentido lakatiano do termo, não relacionada com nenhum programa de investigação científica particular em física, mas sim com a evolução da própria física no seu conjunto. Sendo isto possível, poderíamos criar condições para uma maior eficácia na aplicação dos meios humanos e materiais que são sempre escassos. Introduzimos um critério adicional para além do aumento do conteúdo empírico de um projecto de teoria que constitui apenas o primeiro critério de validação empírica de uma teoria, o qual se tem mostrado insuficiente. A utilização quase exclusiva desse critério, associado a uma aceitação da incomensurabilidade entre teorias introduzida por Kuhn, levou a física teórica à crise em que ela se encontra hoje. Este projecto impõe a necessidade de analisar alguns projectos de teoria, inseridos num determinado programa de investigação, com todo o cuidado. Em primeiro lugar devemos verificar a se existe algum compromisso ontológico explícito ou implícito, quais os postulados explícitos e implícitos que se utilizam e a sua relação com a ontologia detectada e, finalmente, nesta primeira fase, qual a estrutura matemática utilizada e a sua relação com o conjunto de postulados e com a ontologia anteriormente detectados.Em segundo lugar devemos verificar se esse projecto de teoria respeita os três critérios empíricos, ou seja, o critério que consideramos básico: a sua capacidade de descrever quantitativamente os fenómenos, que constituirá sempre um conjunto limitado. Nenhuma teoria descreve todos os fenómenos. Passaremos ao segundo critério relacionado com a sua capacidade de prever fenómenos até então insuspeitos de poderem ser observados. Finalmente, utilizaremos o último critério, ou seja, se esse projecto de teoria permitiu a construção de novos instrumentos. Instrumentos cujo funcionamento dependa desse projecto de teoria e que tenham aumentado a nossa capacidade de acção no mundo.
Instituição de Acolhimento
Financiamento
FCT - Fundação para a Ciência e a Tecnologia
Financiamento atribuído:
68.000 eur
Equipa
Investigador Principal
Rui Moreira \ GI2 - Filosofia das Ciências Naturais
Membros:
Gil Santos
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GI2 - Filosofia das Ciências Naturais
João Luís Cordovil
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GI2 - Filosofia das Ciências Naturais
José R. Croca
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GI2 - Filosofia das Ciências Naturais
Colaboradores:
Carlos Ramos
Gildo Magalhães
João Araújo