Para lá da ficção que sempre se mede, mesmo que em negativo, com o verosímil e o possível, isto é, com o regime da verdade, podemos pensar a fabulação como a operação criativa que rompe radicalmente com este regime. De facto, a fabulação introduz um novo léxico como, por exemplo, a potência do falso, ou os mundos incompossíveis, isto é, a fabulação joga-se num novo plano da modalidade: já não o do possível da ficção (o qual se reduz sempre a uma equação com a verdade), mas do impossível. Ora, romper com a verdade é romper com o regime do poder. E, portanto, a fabulação introduz uma nova forma de pensar a literatura: mais do que uma luta política, uma expressão ética, ou seja, a afirmação de subjectividades outras que habitam mundos compossíveis, divergentes, e que partilham da mesma potência do falso.