Esta polémica sobre o conceito de disciplina é de fundamental importância para a compreensão do que se pode entender por interdisciplinaridade. Se as disciplinas são meras entida des sociais, grupos de indivíduos, reunidos principalmente por razões institucionais e contingentes, entidades flexíveis e porosas, o avanço das práticas interdisciplinares facilmente produzirá o desaparecimento progressivo das disciplinas. À medida que as interseções interdisciplinares se intensificam, as disciplinas tendem a perder as suas fronteiras e, con sequentemente, a desaparecer. A interdisciplinaridade pode então ser definida como a superação das fronteiras disciplinares.
Pelo contrário – e esta é a abordagem que plenamente subscrevo – se as disciplinas continuam a ser pensadas como entidades robustas com perfil cognitivo fundamental, domínios estáveis da atividade de pesquisa, com a sua identidade teórica, a sua história e o seu desenvolvimento específico, então a interdisciplinaridade não tem nada a ver, nem com a fusão, nem com o desaparecimento das disciplinas e da sua capacidade produtiva. A interdisciplinaridade deve ser entendida, não como exigência do abandono das disciplinas ou do esbatimento das suas fronteiras, mas simplesmente como algo que existe “entre” as disciplinas, que vive “porque” há disciplinas. É porque as disciplinas existem como entidades reconhecíveis que a interdisciplinaridade pode cruzar, circular, trabalhar “com” elas, “dentro” das suas fronteiras.
Da Introdução
Livros e Revistas
Interdisciplinaridade. Ambições e Limites – 2ª edição
2021
Óbidos:
Aletheia Editores
ISBN (print): 978-989-8906-94-6
Sinopse: