Se a Filosofia da Ciência sempre olhou a ciência como uma poderosa arquitectura de conceitos, leis e teorias suportada por um único tipo de materialidade – a escrita – ultimamente, ela começou a dar atenção a outros tipos de dispositivos tangíveis com que a ciência, afinal, também se faz e constrói.
Para lá da escrita que habita os cadernos de notas, os tratados, as sumas, os compêndios, os artigos, os papers, para lá dos diversos estilos discursivos, das diferentes estratégias argumentativas, dos variados dispositivos retóricos que atravessam essa textualidade, para lá das práticas de laboratório e dos instrumentos nos quais algumas disciplinas científicas se suportam, a Filosofia da Ciência começou a dar atenção ao facto de todas as ciências se socorrerem sempre de imagens.
Não apenas marcas diagramáticas de um pensamento que se precipita no espaço branco do papel, mas imagens de variados tipos e naturezas, suportadas por tecnologias cada vez mais sofisticadas e poderosas que permitem ver mais, ver melhor e, sobretudo, ver o que jamais veríamos sem elas.
O projecto A Imagem na Ciência e na Arte inseria-se nesta recente tendência da Filosofia da Ciência que dedica uma atenção muito especial à dimensão diagramática, figural, imagética da actividade científica. Duas hipóteses estiveram, desde o início, subjacentes a esse projecto.
Duas hipóteses que, desde então, não deixaram de me desafiar: a primeira, que a imagem em ciência cumpre funções cognitivas e heurísticas muito elevadas, muito para além das funções meramente ilustrativas e comunicativas que, em geral, lhe são reconhecidas; a segunda, que a compreensão do lugar que a imagem desempenha na construção do conhecimento científico permite articular Ciência, Arte e Filosofia num triângulo surpreendentemente virtuoso.
Nesse contexto, pensei ser possível defender a tese de que a imagem, enquanto acto simbólico, enquanto produto dessa divina faculdade que é a imaginação, enquanto dispositivo de visibilidade do invisível, seria um dos lugares mais íntimos e mais intensos da articulação entre Ciência, Arte e Filosofia, essas três actividades humanas que têm em comum o facto de estarem atravessadas todas elas por uma admirável vontade de verdade, inteligibilidade e beleza.
Livros e Revistas
CorpoIMAGEM. Representações do Corpo na Ciência e na Arte
2019
Lisboa:
Fim de Século
Colecção:
A Imagem na Ciência e na Arte
ISBN (print): 978-972-754-285-7
Sinopse: